Em 1997, Rei Kawakubo, fundadora da Comme des Garçons, lançou uma das coleções mais provocativas da história da moda: Body Meets Dress–Dress Meets Body. Conhecida por desafiar convenções, Kawakubo trouxe à tona questões profundas sobre o corpo, identidade e forma. Mais de duas décadas depois, projetos como o PNEU-SKIN, uma interface háptica com tecidos infláveis, continuam essa conversa — agora no cruzamento entre moda e tecnologia.
Neste artigo, vamos entender como essas duas obras dialogam e como o conceito de “vestir” pode ir além da estética e tocar no sensorial, político e interativo
O impacto da coleção Body Meets Dress–Dress Meets Body
A coleção, também chamada de “Lumps and Bumps”, chocou o mundo da moda ao alterar completamente a silhueta humana. Utilizando acolchoamentos internos e formas infladas sob o tecido, Kawakubo desafiou a ideia de que a roupa deve moldar ou "melhorar" o corpo.
Principais pontos da coleção:
- Introduziu volumes inesperados nos quadris, costas e ombros
- Rompeu com os padrões tradicionais de beleza e simetria
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Inspirou debates sobre o corpo feminino, disformia e liberdade estética
🔗 Referência visual: Veja a coleção no Vogue Runway

Imagem: Rei Kawakubo. Comme des Garçons. Body Meets Dress--Dress Meets Body Ensemble (bodice and skirt). 1997
Em Body Meets Dress–Dress Meets Body, o corpo se torna uma superfície de debate, onde os tecidos falam sobre gênero, estranheza e mutação.
Essa abordagem ressoa fortemente com trabalhos contemporâneos que também tratam o corpo como interface, como é o caso do PNEU-SKIN.
PNEU-SKIN: roupas como interfaces sociais
O projeto PNEU-SKIN propõe um sistema de tecidos infláveis que respondem a estímulos sociais e ambientais. É uma espécie de “segunda pele” que expande, contrai e vibra em resposta ao toque ou proximidade de outras pessoas. A coleção de Kawakubo foi usada como inspiração para o projeto.
Fonte: PNEU-SKIN: A Haptic Social Interface with Inflatable Fabrics (2021)
Similaridades com Kawakubo:
- Exploração do volume como linguagem
- Subversão da função tradicional da roupa
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Crítica à padronização do corpo
Mas o PNEU-SKIN vai além: ele insere tecnologia e interatividade na equação. A roupa agora responde, reage e até se comunica.
A interseção entre arte, moda e tecnologia
Tanto Kawakubo quanto os criadores do PNEU-SKIN tratam o vestuário como meio de comunicação sensorial e crítica social. Não se trata mais de “o que vestir”, mas de “o que a roupa diz, sente ou provoca”.
Essa nova fronteira levanta questões fundamentais:
- O que significa tocar e ser tocado por meio da roupa?
- Como a tecnologia pode ampliar a expressão corporal?
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É possível usar moda para gerar empatia?
Conclusão: quando o corpo encontra o estranho
De Body Meets Dress–Dress Meets Body ao PNEU-SKIN, vemos uma linha evolutiva que conecta moda, corpo, tecnologia e afeto. Kawakubo abriu espaço para uma moda mais filosófica; os projetos contemporâneos estão levando isso a um novo território: o do sensível e interativo.
Em um mundo que cada vez mais mediatiza e virtualiza o corpo, essas propostas são lembretes poderosos de que o vestir pode — e deve — ser uma forma de questionar, provocar e sentir.